Há uns 15 anos, na
época que o crush nem crush era, eu gostei de um garotinho da escola, da sala
vizinha, e era tão legal isso! Éramos muito amigos, saíamos, conversávamos,
tínhamos os mesmos amigos, era muito confortável e conveniente, e era claro o
interesse dos dois. Enfim, eu não vou expor em detalhes os acontecimentos, mas
essa história me fez prometer para mim mesma que eu jamais expressaria meus
sentimentos novamente. E assim eu fiz... até hoje. Foi uma situação tão
embaraçosa que eu guardei isso por tantos anos, e somente dois psicólogos
souberam e tentaram trabalhar minha cabeça, eu me abri mais e acabei comentando
com outras pessoas também.
Eu tenho meus defeitos,
sou humana, e como sou; sou mais defeitos que inverdades. Em muitos momentos eu
não enxergo nada de bom em mim. Eu só me torno uma pessoa melhor quando me
disponho a ajudar os outros. Eu sinto raiva, inveja, ciúme, todas as coisas
ruins, não num nível patológico, mas como um ser humano normal, sinto, sim.
Tudo isso eu guardo para mim e peço a Deus que me modifique.
Como igualmente
terrível, como os sentimentos já mencionados, assim, para mim, é o amor: Uma
coisa muito ruim. Não consigo ser eu mesma, não consigo me desviar disso e
acabo numa rede bem construída de mentiras e crueldade.
A minha capacidade de
sentir está intacta. Eu sou capaz de amar e amar muito, e por muito tempo,
suportar muita coisa, às vezes eu consigo demonstrar, deixar no ar, mas nunca,
jamais serei capaz de falar. Pior ainda, além de nunca admitir, quando
questionada, ainda nego, piamente, e convenço, seriamente.
Eu tenho dificuldade de
lidar com sentimentos, de falar sobre sentimentos e, por isso, prefiro me
manter distante e sair da zona de confronto entre as relações. Não sei lidar
com isso e detesto discutir relação. Assumo. Essa sou eu e não posso deixar de
ser quem sou.
Sinto muito por isso.
Sinto muito por você e por mim. Sinto muito por tudo. O grande problema é
exatamente isso... Sentir demais.
Hoje, conversando com
dois amigos, vi que já é hora de realmente cair na real e me cuidar mesmo. Não
adianta a gente sofrer e se abandonar por quem só nos dá valor da boca para
fora. Dá boca pra fora todo mundo é o que quer... Doer vai sempre doer, mas
pior que a dor de ter a certeza que “foi tempo perdido” e não somos mais tão jovens,
não há.
É muito triste e
dolorosa uma situação na qual não existe compreensão, tolerância e nem
flexibilidade; ambas as partes estão feridas e desgastadas, uma há mais tempo
(bem mais), outra há menos. A liberdade que se dá a uma pessoa é algo muito
delicado, porque às vezes as pessoas te dão um direito e depois querem tomá-lo
de volta. O fato de você ter liberdade não te dá o direito de humilhar, pisar,
piorar feridas ainda abertas.
É doloroso saber que
muitos dos que a gente deu valor, às vezes mais do que mereciam, não nos acham “decentes”
suficiente, ou encontram, no meio de sua raiva potencializada e inflamada por
outras palavras, um desperto descontrole e desequilíbrio emocional. É difícil. Dói amar.
Amar... dói. O bom disso tudo é que desamar pode ser um processo bem mais
complicado, mas uma vez desamado, amado não mais será.
Amar é uma decisão,
tomada com consciência e firmeza. Desamar também é uma decisão... tomada pela
circunstância e pelo desespero de não mais sofrer.
Sei que muita gente me
quer de volta, eu também me quero. Não estou feliz como estou hoje. Mas agir de
forma a me pressionar e a me deixar pior não é bem o que eu chamaria de
bem-querer.
Bem-querer é calar pra
não magoar.
Bem-querer é abrir mão
pra não perturbar.
Bem-querer é sofrer e
silenciar.
Bem-querer é apagar
quantas velas forem, ano após ano, guardando no mais profundo do seu coração
uma dor e não deixar ninguém saber.
Bem-querer é cativar
mesmo sabendo que não vai ter nada em troca.
Bem-querer é estar
sempre lá.
Bem-querer é engolir
dia após dia uma história que te mata por dentro a cada segundo e, ainda assim,
segurar a onda quando te chamam de egoísta... o teu próprio bem-querer.
Bem-querer é ganhar a permissão pra falar o que quiser e falar mesmo, jogar tudo o que se
sente e perceber que o outro não tem maturidade para lidar com o próprio pedido,
e resguardar-se. E desculpar-se... Esse é o bem-querer.
É nunca ser indecente e
ainda assim acatar essa exigência de outrem e calar e desculpar-se e morrer um
pouco mais, e de novo... e ir além. Esse é o bem-querer.
Discutir, o bem-querer
não discute, ele pede perdão e se ajoelha. Ele interpreta o que sabe e pensa
que o outro não vai mesmo aguentar o que você tem a dizer... Ele pede perdão
mesmo, e, ao mesmo tempo, tenta se perdoar por machucar tanto a si mesmo em
prol de um bem que ele achava ser maior... até perceber que não é.
Um bem-querer não pode
ser solitário. Ele precisa ser bem quisto também. E é difícil, olha, Deus, como
é difícil ser querido nesse mundo de meu Deus. Como é difícil engolir todas as
vezes que já se ajudou por trás, sem ninguém saber, como é difícil não jogar na
cara (ou no ventilador) todas as palavras que você sabe que o bem-querer
escolhido merece ouvir, e MERECE MESMO! Aquele bem-querer malvado e cruel que
reclama dos teus pitís e não percebe que a própria reclamação já é um reflexo
do que ele mesmo faz. Aquele bem-querer que não percebe o ciúme por trás da
cobrança e prefere jogar pesado e põe na balança todo o grito horrorizado que
chega aos ouvidos assustados de quem esperava somente uma única coisa: amor.
É, não é um bem-querer
qualquer... É amor.
Era.
***
... E, bem-querer, tu
vais saber, tu vais sentir... Ah, vais.
Pena que vai ser tarde
demais pra ti.
***
Porque doeu ouvir de
ti, mas isso vai passar no meu coração, um dia passa. Mas a boca que proferiu é
a que mais se fere com as próprias palavras.
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