Honor
Depois de uma temporada
curta de férias, eu estava pensando em escrever algo muito especial com o
retorno das aulas da UFC na próxima terça (isso se o meu tempo permitisse,
porque vai ficar trash), mas resolvi antecipar para poder não morrer entalada
com um nó na garganta.
Quem me conhece sabe
muito bem que eu tenho muita dificuldade de expressar meus sentimentos, sabe
também que meu amor por meus amigos é incondicional e que só romperia com algum
deles se eles mesmos quisessem ou se algo muito forte interferisse nos meus princípios.
Pois bem, nesses
últimos dias ouvi de muitos, muitos mesmo, que eu deveria ligar o foda-se e parar
de pensar nos outros, começar a olhar para mim, já que por querer cuidar e
proteger eu acabei me machucando demais. Eu ouvi todos os conselhos, agradeço
por todos, refleti sobre todos e cheguei a uma conclusão: mesmo sendo de alguém
que a gente ame muito, não devemos aceitar coisas que interferem de forma
negativa na vida da gente.
Eu acredito que quando
a gente ama uma pessoa (e não estou restringindo isso a um amor só, se é que me
entendem), a gente cuida, protege, acalenta, briga, xinga, compreende, abraça,
perdoa, passa por cima, chora e sofre junto, e, finalmente, se resguarda,
engole algumas coisas para não machucar, para proteger, para não ferir. Porém,
às vezes, isso é um erro. Às vezes, deveríamos não nos importar tanto com a
vida do outro, pois ele precisa crescer também, e maturidade é “sinônimo” de
experiência, principalmente as negativas.
Eu sempre procurei
proteger os meus amigos de tudo que fosse ruim para eles, sempre procurei estar
presente em todos os momentos, alguns me segurei e não me permiti estar junto
por tantos motivos que hoje eu me arrependo. Tudo poderia ser diferente. Eu
tenho pessoas maravilhosas ao meu lado, o tempo todo, e todo mundo percebe, e
muitos reclamam, que eu dou muito valor a elas, valor que muitas, segundo
outras, nem merecem. Mas não sou eu quem impõe esse valor.
Eu queria muito poder
dizer que todas as minhas amizades (as preciosas) vão durar para sempre, mas eu
sei que não vão. A gente sabe quando um pedacinho do coração da gente quebra e
cai e vai-se embora sem nem deixar a gente tentar de novo. Também não podemos
dizer que isso é irreversível. Afinal, “o que posso dizer do amor (que tive):
que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Quantas coisas eu
poderia ter hoje se tivesse tomado as decisões de forma diferente, quantas eu
teria perdido e quantas me fariam ter paz? Nós somos responsáveis pelas nossas
escolhas e não podemos interferir nas dos outros. Amigo, parente, colega,
conhecido, pais, nem mesmo filhos, o que nos cabe é orientar e não manipular
uma decisão. A partir do momento que aquela decisão te afetar de alguma forma,
você poderá optar por não querer estar perto do que te fere.
Então?
Eu esperei muito tempo
para olhar para frente, para tornar passado aquilo que um dia nem futuro teve
(por razões diversas que nem vale mais a pena questionar); quando percebi, me
vi presa a uma realidade onde eu nunca quis estar, mas fui obrigada a tal e,
sem me dar conta da dimensão real dos acontecimentos, fui envolvida numa aura
de intrigas e maldade que resolvi, hoje, colocar para fora e expulsar de uma
vez por todas da minha vida.
Não posso lutar por
quem não luta por mim; não posso existir por quem não existe por mim; não posso
continuar engolindo e protegendo quem não me protege, quem não aceita perder
nada para poder me ganhar, porque eu aceitei perder para poder ganhar, ganhar o
mínimo, pacientemente, gratuitamente e com o mesmo amor, sem tirar nem pôr. Submeter-me
a situações que não me deixam confortável não vale dinheiro algum, não vale nem
um evento inteiro, que eu teria deixado para trás, se estivesse em posição de
decidir, numa circunstância extrema.
Despi-me de sentimentos
que eram tão lindos e tão verdadeiros para proteger... Ninguém nessa vida me
deve nada, mas eu muito menos devo a alguém. Essa semana foi bem difícil. Perdi
algumas pessoas e reencontrei outras. Meus alunos foram fundamentais nesse
processo de cura, ouvi-los cantar ontem foi um sopro de amor no meu coração
refrigerado. Todos os abraços, as palavras de carinho, as demonstrações de
afeto foram essenciais, ainda são (meus preciosos coringas).
Aos meus amigos,
aqueles que verdadeiramente amo, nunca contaria coisas que os machucassem sem
haver necessidade. Nunca deixaria de lutar por eles, embora alguns tenham
deixado, e eu agradeço a Deus ter todos em minha vida. Meu coração pesa de
cansaço, dor, tristeza e ressentimento e não será aliviado facilmente. Eu
realmente sinto muito por me sentir assim, mas não posso esconder que é assim
que me sinto, já escondi coisas demais.
Eu sempre acreditei que
o amor da minha vida, a minha alma gêmea seria um amigo, alguém em quem eu
confiasse cegamente, alguém que também me decepcionaria, lógico, alguém com
sangue nas veias e calor no coração. O amor sempre foi uma palavra que coube
para mim mais aos meus amigos do que a qualquer outra categoria. Hoje, vejo
essa visão ser modificada pelos fatos incontestáveis que se apresentaram a mim.
Nessas condições, me vejo obrigada a mudar de posição e a me proteger,
inclusive daqueles a quem tanto protegi e cuidei.
Eu, nascida no dia 15
de março, registrada como pisciana, sempre afirmei que meu signo, se existisse,
era Escorpião e meu ascendente seria em Virgem. Isso tudo porque eu sou muito
prática nas minhas relações. Por outras situações anteriormente vividas, eu me
fechei para muitas oportunidades, por medo de me machucar. Aceitei muitas
funções por me satisfazer estar perto, fui irracional, muitas vezes, emocional
e verdadeiramente me escondi debaixo de uma capa que tornou invisível para
todos, exceto para mim mesma, a razão de tudo isso. Fui pisciana... Uma vez na
vida.
Há muito tempo eu
descobri (antes de assistir a The Vampire Diaries, que fique bem claro, e
talvez por isso me identifique tanto com o Damon) que posso desligar as
emoções, que isso me faria ficar em paz, porque não se importar quer dizer não
se ferir mais. E então, passei a ver graça nos vilões, passei a entender suas
razões e a aceitar suas atitudes. (Bridget Jones no more!) Eu nunca fecho uma
porta sem antes tentar. Quando eu confio, eu nunca me fecho sem saber no que
vai dar, eu nunca diria “não” logo de cara para oportunidades que eu mesma não
vi por estar ocupada com coisas que não valiam a pena, muito menos deixaria um “amor”
que, da boca para fora, é tão importante bater a porta, entrar no trem e
partir.
Decepção, todo mundo
sente, é normal. Expectativa é algo inerente do ser humano, ninguém nunca
morreu por tê-las quebradas. Agora... Ver-se dentro de um conflito onde você
não queria estar e ainda assim, ver-se sozinha? Aí é demais. Falar muita gente
fala, todo mundo é e faz o que quer da boca para fora. Fazer, se impor e se
firmar não é algo para muitos. De repente a minha fraqueza foi o que me tornou
forte, porque deixou de ser fraqueza quando eu deixei de me importar e passei a não me submeter a determinados cargos fictícios no coração das pessoas. Função
decorativa não serve para mim.
E que fique bem claro
neste post que, não é por deixar de
amar o outro, mas por se amar mais que o outro, coisa que eu deveria ter feito
desde o início. Se eu fosse a escrota que eu sou com algumas pessoas que eu
costumo poupar, essa visão paternalista (e desrespeitosa) nunca teria sido
imposta a mim. Jamais eu impus meus pensamentos, jamais eu manipulei suas
decisões, talvez se eu tivesse feito isso tudo seria mais legal, não é verdade?
Mas amor nenhum destrói meus princípios e eu posso, hoje, bater no peito com a
força e a convicção de quem te perdeu por te proteger e por ser honesta e leal
demais a você. Perdi... Aceito e me recolho, finalmente, e em paz. Fiz tudo o
que era certo, isso ninguém vai me tirar.
Hoje, olho para frente,
para um futuro inacabado e nunca realizado e não me sinto devedora de nada.
Cada um faz as escolhas que convém, que QUEREM fazer, não se obriga ninguém a
nada. Um grande amigo me disse, recentemente, que nada é permanente e que
podemos mudar a visão dos outros sobre nós se quisermos. Eu pensei muito e
refleti sobre isso, e percebi que, mesmo que sejamos capazes de fazer isso,
mudar a forma como as pessoas nos veem, não precisamos disso. As pessoas devem
ver com o coração, sem amarras, sem filtros, sem cortes; eu não vou recortar
ninguém através dos meus olhos e impor esse único ângulo para obter o que um
dia eu quis. Não vou mudar o meu comportamento e tornar-me ridícula aos meus
próprios olhos para que os outros me vejam diferente, porque eu não sou assim.
Fica comigo quem quiser ficar, permanece ao meu lado quem quiser permanecer. O
que os olhos dos outros veem sou eu, sem máscaras e dissimulações. Se ainda
assim não é suficiente, não sou eu que vou fazer ninguém enxergar.
Por isso, finquei meus
pés no chão, enrijeci meu coração e optei por desligar de vez as emoções. E o
motivo plausível é: se você não é capaz de lutar por mim, não sou (mais)
eu que vai lutar por você. De novo...
O amor (verdadeiro) não
tira férias, ele pede demissão.
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